Fui questionado pela Luisa Moreira se já tinha presenciado o comportamento observado na Estónia em que a progenitora come duas das crias recém-nascidas, fenómeno designado por cronismo. Não, nunca presenciei tal comportamento (tal como a maioria dos especialistas que trabalham com estas espécies), pois numa situação normal isso requer uma grande dose de "sorte" em estar a observar o ninho no momento em que esse comportamento acontece. Tendo em conta que estas espécies são muito sensíveis à perturbação, quando as monitorizamos tentamos ser o menos intrusivos possível, ou seja, observamos geralmente a uma distância considerável e por curtos períodos de tempo, só mesmo por mero acaso poderia presenciar tal comportamento. No entanto, já suspeitei diversas vezes que este comportamento se tivesse verificado em ninhadas em que era conhecida a dimensão da postura e nos primeiros dias após a eclosão o número de crias era já inferior ao número de ovos. Isto pode ter-se devido a cronismo, mas também a morte natural da(s) cria(s), que são imediatamente removidas (ingeridas ou levadas para fora do ninho) pelos progenitores, mas nunca temos a certeza a não ser que se presencie a ocorrência. Apenas em situações de colocação de câmaras como a do nosso projecto ou dos outros que se encontram na net se podem extraír dados sobre estes fenómenos comportamentais raros e muito pontuais e isso aumenta significativamente o valor científico destes projectos.
Esse comportamento embora aos nossos olhos pareça cruel, é um mecanismo de regulação utilizado pelos progenitores quando "sentem" (isto é, avaliam com base na experiência que vivem dia a dia) que a disponibilidade de alimento vai ser insuficiente para assegurar que conseguem criar todas as crias. Assim preferem eliminar uma ou várias crias (ingerindo-as como recurso alimentar) do que deixá-las morrer à fome e assegurar que conseguem criar em boas condições as restantes.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário